Edifício Banco Borges & Irmão, Braga, 1985
No centro da cidade de Braga, um conjunto construído por acumulações sucessivas, mas já bem sedimentado na memória da cidade. Nele ocupando uma posição importante, o edifício preexistente é já inseparável dessa memória.
Um projecto para um volume de sete pisos previamente fixado, na substituição de duas unidades existentes - a primeira intervenção de choque, capaz de sugerir a destruição gradual de todo o conjunto. A atitude tomada será, neste contexto, inevitavelmente crítica.
Numa procura desesperada de encontrar raízes se encontra o fundamento vital da imagem. A fachada antiga, isolada como superfície visualmente assimilada, é o elemento mediador. Pertencendo à imagem do lugar, é agora apropriada como parte integrante da composição. Expressa como membrana declaradamente falsa, determina as principais tensões que moldam o pano de vidro justaposto, sugerindo a métrica que o disciplina.
A cumplicidade entre as duas fachadas é assim escolhida para tema e evidenciada na própria escolha dos materiais. O pano de vidro de modulação regular e sem elementos de destaque permite realçar a superfície preexistente, mantendo-a bem presa no movimento dos planos.
Um pormenor tipo, adaptado circunstancialmente às várias situações segundo regras constantes, é no fundo o reduto onde se condensa a concepção de uma superfície cuja transparência é denúncia deliberada da estrutura de betão armado que a suporta.
A consistência do detalhe não se esgota nele próprio - está essencialmente na garantia de coerência do todo. Isolada, mas íntegra, a fachada antiga conserva todos os elementos de detalhe que lhe dão forma, tanto no exterior como no interior.
Três materiais dominantes percorrem o espaço interior da agência bancária e da caixa de escadas que conduz aos andares: o mármore, o estuque e o latão. A relação entre eles baseia-se em princípios de composição e detalhe generalizados ao conjunto e circunstancialmente adaptados às situações que resolvem.
Um quarto material, a luz, é o elemento complementar.
Nos desencontros da cidade se desenha o compromisso - na cumplicidade entre as duas fachadas.
Arquitectura
José Gigante
(Gab. Jorge Gigante/Francisco Melo)
Colaboração
Fernando Santos
Projeto de Fundações e Estruturas
Rui Fernandes Póvoas
Projecto de Instalações Eléctricas e Mecânicas
Constantino Matos Campos
Projecto de Instalações de Águas e Esgotos
Veloso Cardoso
Localização
Braga, Portugal
Dono de obra
BPI
Data de Projecto/Obra
1979-1985
Construção
Sociedade de Construções Espaço, Lda.
Fotografia
Arquivo José Gigante