Casa Clementina Loureiro, Senhora da Hora, 2005
Pela sua configuração e enquadramento no loteamento em que se integra, o terreno proporciona a edificação de um volume com três frentes que, do ponto de vista arquitectónico, se assumirá inevitavelmente como o remate da banda edificada contígua.
As unidades já construídas no loteamento apresentam cave, r/chão e andar, conforme definido no regulamento, aos quais se acrescenta, sob o pretexto de aproveitamento parcial do vão da cobertura, um piso útil suplementar tornado possível por telhados de acentuada inclinação.
No projecto agora apresentado mantém-se o mesmo tipo de apropriação, embora se proponha que a real configuração do espaço interior se deixe expressa no desenho do volume. O andar recuado, de recorte inscrito nos limites definidos pelo telhado da construção adjacente, é assim assumido como indissociável do conjunto. A estrutura de betão armado, aparente nas fachadas na sua qualidade de elemento disciplinador, determina as regras capazes de tornar legível essa indissociabilidade.
É também no interior da métrica estrutural que se encontra o modo de compor as fachadas: preenchendo os pórticos de betão armado com planos de alvenaria de tijolo cerâmico cujo distanciamento aos pilares gera os vãos envidraçados preenchidos com uma única folha envidraçada que desliza no interior das paredes. Tal configuração sublinha, por sua vez, a leitura da estrutura, consumando aquilo que, regra geral, aceitamos como objectivo de um projecto de arquitectura: o protagonismo da obra no seu todo, na consciência de que este depende sempre do rigor com que se desenham as partes que lhe dão corpo.
Pensa-se ser esta uma das vias possíveis para a qualificação do edifício como elemento de remate da banda construída adjacente, não por qualquer pretensa integração na incaracterística arquitectura do conjunto mas antes pela tentativa de expressar a sua própria interpretação do tema - ensaiando uma concepção essencialmente tridimensional que confere o estatuto da fachada a qualquer um dos segmentos do volume.
O espaço interior da habitação é ordenado com base em duas faixas distintas.
A primeira, articulada com a entrada, é formada pela área de distribuição e pelos vários espaços de serviço.
A segunda, sobreposta à garagem, integra os quartos, a sala de trabalho e a sala comum, esta última organizada com base em três zonas complementares: um escritório; uma área de estar marcada pela presença do fogão de sala; e uma sala de jantar cuja ligação à cozinha pode ser alterada pelo movimento de um conjunto de painéis de madeira interpostos.
Todos os compartimentos da habitação, sem qualquer excepção, dispõem de aberturas envidraçadas para o exterior capazes de lhes proporcionar não só a adequada ventilação natural mas também uma franca relação visual com o exterior - um procedimento em absoluta consonância com o desejo expresso de que a composição do volume não passe pela subalternização de espaços, na consciência de que estes serão sempre inevitavelmente os protagonistas do facto arquitectónico.
Arquitectura
José Gigante
João Gomes
Colaboração
Fernando Santos
Luís Guimarães
Nuno Silva
Ivo Oliveira
Tiago Delgado
Comportamento Higrotérmico
Vasco Peixoto Freitas
Projecto de Fundações e Estruturas
Rui Fernandes Póvoas
Projecto de Instalações Mecânicas e Gás
Paulo Queirós de Faria
Projecto de Instalações Eléctricas
António J. Rodrigues Gomes
Localização
Senhora da Hora, Matosinhos, Portugal
Data de Projecto/Obra
1996-2005
Construção
LS Amorim
Fotografia
Arménio Teixeira