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Museu-Auditório do Teatro de Marionetas do Porto, Porto, 2000-03

Não construído

O terreno é limitado lateralmente pelas empenas dos edifícios adjacentes, confrontando as traseiras com o limite construído do antigo Convento de Monchique.

Pertencendo ao terreno, um pequeno corpo integrante do Convento assume o estatuto de fachada, ordenada com base na sucessão dos vãos que, rasgados na alvenaria de granito, denunciam a primitiva subdivisão em três pisos do seu interior.

Para além da frente voltada ao Rio Douro, o projecto deverá dar expressão à fachada do corpo preexistente, inevitavelmente aprisionado pela necessidade incontornável de apropriação do espaço disponível para cumprimento do programa do edifício. Daí a necessidade de promover o surgimento de uma segunda fachada, legível a partir do interior do volume e que ganha significado na sequência espacial que se desenha entre o espaço que abriga e o restante que irá dar corpo ao edifício projectado. Nasce assim a ideia de um átrio interior, situado ao nível do segundo piso, que serve de ponto de partida para toda a distribuição do espaço interior e a partir do qual, num pé-direito triplo, se torna legível a fachada de granito preexistente em toda a sua altura. Uma clarabóia superior, fazendo incidir tangencialmente a luz natural na referida fachada, dará expressão à sua textura.

O desenho do interior aproveita, aliás, a profundidade proporcionada por esse corpo reentrante para acentuar a ilusão de um espaço de dimensão superior à realmente disponível, criando percursos que, partindo da fachada da rua, se adensam em direcção ao interior para regressarem ao contacto com o Rio após cruzarem o átrio de distribuição dominado pela fachada preexistente.

No plano voltado ao Rio condensa-se finalmente essa vontade natural de apropriação da paisagem que aqui se torna tema dominante na procura de expansão visual do espaço interior. E nele se condensa também a expressão do pulsar desse mesmo espaço enquanto organismo vivo, suporte das múltiplas actividades onde se desenha a identidade do Teatro de Marionetas do Porto como grupo onde a criação, baseada numa paciente e persistente aprendizagem do ofício, permanentemente vai repovoando o seu imaginário próprio com a presença e a memória dos espectáculos que regularmente cumpre.

Daí que a fachada seja pensada como a possível expressão dessa permanente inquietude que subsiste por detrás da disciplinar atitude que simultaneamente a liberta e estimula: uma superfície de vidro suficientemente regular e neutra para acolher de modo tranquilo as subtis mutações que ao longo do tempo venham a transfigurar os registos gráficos depositados sobre os painéis opacos que a complementam. Painéis deslizantes, de posição deliberadamente aleatória, sobre os quais poderão ser fixados registos identificativos dos espectáculos do grupo, em cena ou integrantes do seu património, cujo posicionamento na fachada se pretende variável, sem qualquer outra regra de implantação que não seja a da métrica abstracta da modulação do plano envidraçado voltado ao Rio.

Um plano envidraçado que necessariamente se quer cúmplice da definição de um princípio de composição que, embora comprometido com a volumetria das construções adjacentes, aposta na autonomia formal do edifício como um imperativo indissociável da sua capacidade de resistência às eventuais transformações que eventualmente venham a verificar-se na sua envolvente.

Por isso, é sem perder a sua identidade como corpo, que se relaciona com as cérceas díspares dos volumes adjacentes, a uma fazendo corresponder a altura do referido plano contínuo envidraçado e a outra a da laje de cobertura que, sobre a sombra desenhada pelo terraço do último piso, avança até ao plano da fachada.

Arquitectura
José Gigante
Vítor Rosas da Silva

Comportamento Higrotérmico/Comportamento Acústico/Instalações de Águas e Esgotos
Prof. Eng. Vasco Peixoto de Freitas, Lda.

Projecto de Instalações e Equipamentos Eléctricos e Telecomunicações/Instalações mecânicos/Segurança
Eng. Rodrigues Gomes & Associados

Projecto de Fundações e Estruturas
GEG - Gabinete de estruturas e Geotecnia, Lda.

Projecto Museológico
Ângela Guimarães
Inês Venade

Equipamento Cénico
Francisco Beja (Assessoria)

Localização
Porto, Portugal

Cliente
Teatro de Marionetas do Porto

Data de projecto
2001

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